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Julio Iglesias, o Justin Bieber da vovó, dá primeiro adeus ao Brasil

“Eu falei para a minha filha que ele é tipo o Justin Bieber para o vovô e para a vovó”, diz Sabrina – ao lado da garota, Julia, e de seu marido, Alessandro – que apenas acompanhava seus pais, Francisco e Luiza, do lado de fora do Citibank Hall, em São Paulo, pouco mais de uma hora antes do cantor espanhol Julio Iglesias subir ao palco para a primeira das últimas três apresentações do cantor espanhol em sua derradeira turnê brasileira. A definição não poderia ser melhor, dada suas devidas proporções, como a diferença na faixa etária dos fãs. Assim como nas apresentações de Bieber, a plateia, em sua grande maioria feminina, se derrete pela grande estrela da noite. Paixão e idolatria que se sintetizavam nos gritos ao longo de espetáculo de “eu te amo”, “lindo” e “queria ser essa garrafa de água”, em um dos momentos em que Iglesias fez uma pausa para se hidratar.

Cerca de 1h30 antes do início do espetáculo, o movimento ainda era fraco e o público chegava discretamente à casa de shows. Mesmo faltando dez minutos para o início, muitas cadeiras estavam ainda vazias, mas acabaram sendo preenchidas a tempo, dado o atraso de cerca de vinte minutos do cantor. A expectativa dos fãs era a melhor possível, principalmente pelo fato de ser a primeira vez de boa parte deles. A faixa etária da maioria era acima dos 60 anos, mas, mesmo assim, havia algumas exceções, como Fábio, 42, que afirma ter recebido o gosto como herança da mãe. Já Eduardo, 26, prefere rock nacional, mas mesmo assim acompanhou sua mãe, Lucia, 52. “Ele é o meu ídolo de infância e eu fui presenteada com o ingresso pelo meu filho”, conta.

Alguns fatores podem explicar a fascinação das fãs, que destacam a simpatia do cantor, que em muitos momentos interagia com a plateia, sempre bem humorado, e o ritmo romântico das músicas. A espanhola Cadi, 65, no entanto, tem outros motivos que deixam o cantor especial. “O Julio Iglesias tem uma energia romântica, sexual, humana. Quando ele está cantando ele faz nos sentir dentro de nós mesmas. E me faz sentir na minha terra”, afirma a senhora, que diz ter um apartamento próximo à vila onde o músico mora, em Málaga, ao sul da Espanha. Mas diz nunca ter tido um contato mais próximo – para sua infelicidade. De qualquer maneira, não é à toa que Iglesias encante tanto o público feminino. Seu jeito de galã, algumas vezes até atrevido, foi um espetáculo à parte ao longo da noite.Julio Iglesias se apresenta no Citibank Hall em São Paulo

Durante a música Amor Amor, Iglesias chamou uma de suas vocalistas de apoio, que é brasileira, para ficar ao seu lado enquanto cantava. Assim que terminou, ele fez uma carícia no braço da moça e em seguida se benzeu, provocando riso na plateia. Em seguida, disparou: “Mas que sorte a minha”. Em muitos momentos, inclusive, o espanhol prestava mais atenção – com razão – nas três belas cantoras do que em qualquer outra coisa. Mais para a metade da apresentação, o tango La Carretera foi acompanhado por um casal de dançarinos, que chegavam a deixar o cantor em segundo plano. Ao final da canção, ele chamou os dois e pediu ao rapaz se poderia dar um beijo em sua esposa. Não havia como negar. “Se ela quiser...”, disse o dançarino. Julio então tascou um beijo de cinema na mulher, para delírio – e inveja – da plateia. Ao perceber a reação, brincou: “Eu tenho 70 anos, já não faço mais nada. Vocês acham que eu sou o super-homem, mas é uma m...”, disse, acompanhado por gargalhadas do público.

O astro beijoqueiro ainda fez outra vítima na parte final da apresentação. Julio Iglesias fez um dueto com outra das suas vocalistas na música All of You. Ao final da canção, ele não perdeu tempo e colou seus lábios contra os da cantora. O jeito atrevido era recíproco com sua plateia. Em determinado momento, o músico se sentou em um banquinho no palco e começou a falar: “Hoje de manhã estava no meu hotel...” e logo foi interrompido por um grito: “qual hotel?”. Tanto ele como o público não se contiveram e caíram na risada. Quando comparado com Roberto Carlos pela reportagem de VEJA, devido ao estilo musical semelhante, Clotilde, 62, caprichou na ousadia. “Para mim é assim, o Roberto seria o meu marido e o Julio, meu amante (risos)."

Amor ao Brasil – Em sua última passagem pelo Brasil, o espanhol preparou um setlist especial em homenagem ao país que diz ter muito carinho. “No Brasil, o amor não tem idade. É isso que faz de vocês maravilhosos”, disse durante a apresentação, que esteve repleta de sucessos nacionais, entre eles Aquarela do Brasil, de Gal Costa, Dois Amigos, música que compôs para Zezé Di Camargo e Luciano, e até Mal Acostumado, do grupo Araketu. Durante o show, Julio lembrou de sua amiga Hebe Camargo e dedicou a ela a música Ne Me Quitte Pas. “Ela sempre insistiu para eu cantar essa música.”

O público, que se manteve comportado e educado tanto antes como durante a apresentação, não se conteve quando percebeu que a noite estava perto do fim e boa parte se levantou das cadeiras para chegar mais próximo do palco e tirar uma foto mais perto do ídolo. “Ai, eu não posso perder essa chance”, disse uma senhora, que quase saltitante passou pelo corredor tentando encontrar o melhor espaço para registrar o momento. Apesar do espanhol ter declarado que essa seria sua última turnê, boa parte dos fãs diz não acreditar. “Ele sempre fala que vai parar, mas acaba voltando”, diz Edna, 64. “O pai dele faleceu com mais de 90 anos, então ele vai longe (risos)”, brinca a conterrânea Cadi. Lucia também concorda, mas diz que espera ganhar na loteria para poder acompanhar um show de Julio na Espanha antes que ele pendure o microfone.

Por enquanto, essa é a ultima passagem de Julio Iglesias pelo Brasil na carreira. O galã espanhol ainda jogará seu charme mais uma vez na capital paulista neste sábado e no dia 26 de setembro, no Rio de Janeiro.
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