Ninguém conhece esses artistas pelo nome, mas, todos os dias, suas obras são visualizadas por milhões de pessoas em todo o mundo. O americano Ryan Germick e o britânico Matthew Cruickshank fazem parte da equipe de doodlers do Google, o time responsável por criar desenhos divertidos e animações que substituem o logo na homepage da empresa em ocasiões especiais.
Desde o dia 12 de junho, a dupla integra o grupo selecionado para criar uma série de animações diárias celebrando a Copa do Mundo. E, pela primeira vez, os doodlers estão trabalhando fora da sede do Google, na Califórnia. Instalados no escritório da empresa em São Paulo, eles já modificaram quase 20 vezes o logo da empresa fazendo referências às disputas entre Alemanha e Portugal, Estados Unidos e Gana, México e Camarões....
De seu novo quartel-general pelo próximo mês, Ryan Germick e Matthew Cruickshank conversaram com o site da INFO sobre inspirações, trabalho, Copa do Mundo e os constantes pedidos para que Justin Bieber estampe a home do Google.
Como é o trabalho de vocês no dia-a-dia?
Matthew: É divertido, mas é também intenso. Temos uma equipe de 10 artistas e 5 engenheiros que, juntos, fazem os Doodles de todo o mundo. Nossos projetos acontecem simultaneamente mas, geralmente, 6 semanas antes de alguma data ou evento começamos a rabiscar as ideias em um papel antes de leva-la para o computador. Em quatro semanas temos que ter um conceito claro e duas semanas para ele estar finalizado. Temos um tempo dedicado à pesquisa, para buscar temas interessantes. Gerentes de escritórios regionais também nos enviam informações sobre o que poderia render um bom doodle.
E internamente, existe alguma divisão do time? Alguém é responsável especificamente pelos Doodles do Brasil, por exemplo?
Matthew: Tentamos ter um rodízio na equipe. Então não temos exatamente um especialista em “dia da independência” que faz todos os desenhos para esta data no mundo (risos).
Vocês precisam da aprovação de alguém para publicar os desenhos?
Ryan: Não exatamente. O time de doodle tem bastante autonomia. Ele existe há 16 anos, antes mesmo de a empresa ser formalmente incorporada. Faço parte da equipe desde que entrei na empresa, há 8 anos. Fui entrevistado pelo primeiro doodler, o DENNY HONG – foi uma entrevista engraçada. Falamos de photoshop, mostrei uns desenhos e foi isso. Hoje, como líder do projeto, tenho bastante claro que nosso objetivo não é ofender ninguém, mas sim celebrar momentos. Há muita confiança em nós por parte do Google. Não precisamos mandar para o QG. Nem mesmo agora, desenhando do Brasil.
Como é o trabalho aqui no Brasil?
Matthew: Trabalhamos menos horas do que na Califórnia, mas é mais intenso. De manhã, à tarde e à noite estamos absorvendo a atmosfera do país e desenhando quase simultaneamente às partidas. Levamos apenas de 3 a 4 horas para colocar um desenho no ar e já temos que pensar nas próximas ideias.
Ryan: Além disso estamos colocando o Google em uma prova de fogo (risos). Nunca fizemos desenhos em tempo real e nunca atualizamos tantas vezes num mesmo dia a home da empresa.
Como selecionaram a equipe de doodlers que viria ao Brasil?
Ryan: Todo o time todo é talentoso, mas sabíamos que precisaríamos de pessoal com experiência em animação para capturar a essência da Copa. Estamos em três pessoas e mais algumas devem chegar nos próximos dias. Eu sou o único que volto para os Estados Unidos por duas semanas, mas estarei de novo aqui nos últimos 15 dias do torneio.
De todos os doodles que vocês fizeram, qual é o favorito?
Matthew: Acho que a homenagem ao Dr. Who (série de Tv britânica). Era um jogo multiplayer. Foi a primeira vez que fiz um game nos doodles e a repercussão foi bem rápida. Acho que o Pac-man do Ryan também foi bastante popular, foi a primeira vez que usamos animação nos doodles e isso abriu a porta para muitas coisas.
Ryan: Temos um ditado que diz que nenhum doodle pode ser o preferido de todo mundo, mas cada doodle precisa ser o favorito de pelo menos uma pessoa. Nosso objetivo não é criar os desenhos mais populares. Se quiséssemos popularidade colocaríamos o Justin Bieber no logo.
Como assim o Justin Bieber?
Ryan- Recebemos muitos e-mails com pedidos e sugestões. E, claro, o Justin Bieber é uma das mais populares. Não é nada contra ele, de forma alguma. Também recebemos sugestões de outros artistas, marcas, empresas... Mas o objetivo do doodle é celebrar datas e momentos, feitos da humanidade. Por isso está tão ligado a acontecimentos e pessoas das áreas de ciência e tecnologia.
Matthew: E isso não quer dizer que não ouvimos os fãs. A ideia do doodle do Dr.Who começou porque havia uma petição online com mais de 400 assinaturas pedindo um desenho da série. E fazia sentido. O show é sobre ciência, tem também ficção científica e é divertido. Tudo muito “Google”. Agora na Copa, por exemplo, estamos reagindo muito a coisas postadas nas redes sociais.
Alguma ideia específica partiu da internet?
Ryan: Sim. Foi até engraçado. No dia da estreia da Copa vimos que as buscas pelo Polvo Paul, aquele mascote da Copa de 2010 que acertava todas as previsões, haviam aumentado em 25 vezes. Foi daí que começamos a pensar em um doodle com ele. (O desenho foi ao ar no dia 17 de junho e mostrava o polvo em meio ao logo da empresa escolhendo o campeão entre os times que jogariam no dia).
Matthew: O cabelo do (Marouane) Fellaini (meio-campo da seleção belga) também é bastante comentado e pode render algo legal. A Bélgica é a seleção de escolha dos hypsters nessa Copa.
E para a final da Copa? Alguma ideia de doodle?
Ryan: Depende das seleções envolvidas, mas definitivamente queremos passar a ideia de celebração...
Matthew: E com certeza algo que envolva os fãs!
Ryan: Sim, os fãs, com certeza. E quem sabe relembrar no doodle alguns dos melhores momentos?
Onde vocês costumam buscar inspiração?
Matthew: Especificamente para a Copa, nós viemos antes para o Rio de Janeiro, há uns dois meses, para sentir a cultura local e também observamos muito o que acontece a nossa volta. Mas na California, e como regra geral, não existe uma regra clara para se inspirar. Geralmente, todo mundo da equipe tenta se manter atualizado em filmes, exposições de arte, obras como esculturas, músicas... O legal esse trabalho é a variedade. Não é fazer a mesma coisa sempre. O conceito final do polvo Paul, por exemplo, veio enquanto caminhávamos no Ibirapuera (parque em São Paulo).
Vocês conseguem medir a popularidade e saber quantas pessoas interagem com cada doodle?
Matthew: Sim, claro. Somos o Google afinal, não? (risos). Mas não encaramos o trabalho da mesma forma que um engenheiro. Para os engenheiros de produtos, uma alteração de 3 pixels em uma linha pode significar uma melhora de X porcento em algum parâmetro. Para nos é diferente. Achamos que cada desenho é único. É legal saber que alguém gostou, mas se algo funcionou não vamos repetir aquela ideia.
Ryan: A ideia é tentar fazer as pessoas darem um sorriso quando entrarem na página de buscas.
Matthew: Por isso o trabalho dos doodlers ainda é uma coisa bastante subjetiva que robôs não podem fazer. Pelo menos, por enquanto (risos).
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